quarta-feira, 16 de maio de 2007

Pensamentos Anônimos no Trem

Ontem indo para a universidade, a van alinhou-se com o Trensurb num determinado ponto do caminho. Como sempre na ida para a aula e cansada de mais um dia de trabalho, acabo adormecendo na viagem como muitos dos estudantes da noite. Ao ouvir um estouro, acordei assustada, mas não era nada a não ser o trem que chegava ao lado da van na BR. Fiquei a observar o comportamento das pessoas dentro dos vagões. O tempo em que o carro ficou alinhado com o trem foi curto, mas suficiente pra que eu identificasse diferentes comportamentos.
Uma moça ruiva, na janela fixava os olhos em minha direção, como se estivesse observando a van, com a mão na boca e apoiada com o braço na janela, com um semblante preocupado, percebi que ela analisava o nada, nem sequer estava enxergando a van. Noutro vagão, um casal de namorados; ele com cabelos cacheados e rosto fino, parecia bravo, e ela, bonita, olhos claros, falava gesticulando como se estivesse discutindo. Este casal chamou minha atenção, estavam sentados em frente a outro casal: beijos e abraços, carinhos desavergonhados causaram uma inveja momentânea em mim. Senti-me como se estivesse invadindo a privacidade daquelas pessoas, mas na verdade se eu estivesse no trem, naquele momento, estaria observando também ou sendo observada.
Num outro vagão percebi a tristeza uma mulher que aparentava ter uns quarenta anos, chorava em silêncio. Ninguém parecia notar a tristeza dela, cada pessoa ali dentro do vagão parecia inerte a situação. Um homem, lendo um jornal ao lado dela, parecia estar encantado com as notícias, nem piscava. Outro dormindo, balançava o pescoço a cada movimento do trem, acordava assustado e pescoço voltava a cair quando ele retornava ao cochilo. E a mulher ali chorando. Eu, na van, observando e sentindo, absorvendo a sensação melancólica do último vagão do trem, que em seguida passou a frente e interrompeu minha análise. Após uns segundos ainda fiquei a pensar sobre o motivo que possivelmente faria aquela mulher chorar e estar com um olhar tão triste.
Hoje, quando vim para o computador redigir meu texto, decidi detalhar os sentimentos e comportamentos daquelas pessoas não sei explicar o porquê. Fiquei um pouco envolvida por aquelas expressões. O casal feliz e o casal estressado; o homem lendo o jornal inerte a situação da mulher ao lado que chorava; a ruiva preocupada e o cara que lutava contra o sono; todos me fizeram analisar os diferentes comportamentos das pessoas no cotidiano. Aquele era só mais um trem que ia de Porto Alegre a São Leopoldo. Quantas vezes o trem vai e volta neste percurso!? E quantas pessoas entram e saem nas estações? Quantos pensamentos, sentimentos passam pelos vagões do trem diariamente? Incalculável, mas mágica essa história de observar os comportamentos e os sentimentos. Agora sempre que eu pegar o trem, depois de ontem, terei a sensação de estar sendo observada como eu observei aquelas pessoas.