quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Brincando de ser Mulher - Nova Versão


Batom vermelho, “blush”, sapato de salto alto e um espelho bem “grandão” no quarto da mãe ou da avó. Lembro-me bem desta fase em minha vida, em que eu ficava em frente ao espelho da minha avó Rosinha e ali diante daquela imagem refletida, me transformava. Maquiagem exagerada, batom que aumentava a boca, beijos no espelho, anéis em todos os dedos, pulseiras, colares. Enfim, eu lembrava e muito a personagem “Porcina” da novela Roque Santeiro. E de fato era assim que me chamavam quando aparecia daquele estado. Em frente ao espelho, com o ventilador ligado ousava poses de “Marylin Monroe”, que eu via na tv e nas revistas velhas da minha mãe.
Não tinha consciência de que aquela brincadeira despertava em mim um sentimento, um desejo de ser mulher o mais rápido possível. Menina que ainda brincava de bonecas, mas que se idealizava como uma mulher bonita e sexy. Acho que toda aquela maquiagem era a maneira que tinha de esconder a cara de criança, o sorriso de menina; que embora tentasse esconder com maquiagem, transparência no momento em que eu caminhava com aquele salto número 15, cambaleava, mas não caia.
Passados alguns anos, as brincadeiras com as maquiagens da avó, roupas e sapatos da mãe perderam a graça – menina magra, alta e cheia de apelidos na escola. Aliás, toda pré–adolescente sofre com os apelidos, e os preconceitos: gordinhas, magras. Mas assim que o primeiro amor de menina surgiu, os problemas com as pernas finas demais desapareceram e agora, as preocupações do dia eram que roupa vestir para ir até a escola? Como arrumar o cabelo? Qual a cor do batom?
As primeiras perguntas, curiosidades com o corpo, os primeiros preconceitos que envolvem a adolescência de uma menina, não se restringem apenas às dúvidas sobre sexo, a menina sente toda a transformação em seu corpo, sente sua alma infantil se despedir e tudo se modifica.
Hoje, as informações sobre sexualidade estão em todos os lugares: escola, tv, internet, revistas, livros. Em outros tempos, tudo era bem diferente, não havia diálogo. As mulheres eram oprimidas pela sociedade, não tinham abertura para falar sobre seus anseios, seus objetivos, desejos – e isso era repassado no relacionamento entre mães e filhas. Os tempos mudaram e falar sobre determinados temas não é mais tabu. Ao analisar a questão da mulher hoje e a mulher nos tempos de minha mãe, ou de minha avó, notaremos que há mais liberdade, mais informação e mais confiança.
Existe uma abertura para falar livremente sobre sexo com quase todo mundo – as meninas sabem que sexo sem camisinha é risco, e que a pílula ajuda a evitar a gravidez indesejada; elas conhecem os riscos de um aborto mau feito. Sempre quando o aborto aparece como tema de discussão, agradeço por minha mão não ter pensado nessa “alternativa” naquela época. Visto que eu nasci de uma gravidez precoce. E quantas “meninas mães” existem por aí? Não há como justificar uma gravidez precoce num mundo tão comunicativo.
O que quer uma mulher? Martha Medeiros numa de suas colunas responde que – “(...) uma mulher quer aprender a ser mais egoísta. Quer, ao menos uma vez na vida, pensar, só nela e em mais ninguém.” Martha tentou em seu texto responde para Freud que nós mulheres não somos tão complicadas. Às vezes acho que somos complicadas sim – não conseguimos ser egoístas porque temos o espírito materno, temos uma mania de proteger até o que não precisa de proteção. A mulher não consegue ser só mulher, ela quer ser tudo que puder ser – mãe, irmã, amante, filha, atriz, professora – são os conflitantes sentimentos femininos. E dizem por aí que somos o sexo frágil! Deixamos de ser frágeis há tempos.

Arte por alguns tostões e sua agenda valorizada

O teatro não é caro, é arte ao alcance de quem está ativo para recepção de cultura. Pense em apreciar a arte da representação e usufrua espontaneidade, exposição do improviso e interatividade imediata de público. E, se para isso for necessário, pagar alguns tostões, é justo, porque é arte. Nós brasileiros, porém, ainda preferimos programas de tvs como reality shows e novelas. Ao invés de investir em entretenimento teatral, nos enlatamos na telinha da tv de cada dia.
O que você faz com R$ 10 para o seu divertimento? Inclua arte na sua agenda. Por que não um teatrinho uma vez ou outra? A explicação para a raridade de público nos teatros talvez seja essa comodidade e facilidade proporcionada pela cultura midiática.


Opinião sobre a Matéria da Editoria de Teatro publicada no Babélia - 8ª Edição