quarta-feira, 6 de junho de 2007

Sensibilidade Compensada

Perfil de Camila Lopes Rodrigues Nunes

A paixão pelo rádio trouxe Camila Lopes Rodrigues Nunes para Universidade, e o curso de Jornalismo na Unisinos ganhou uma aluna aplicada. Desde a infância ela ouvia rádio e se identificava com o que as ondas sonoras apresentavam aos seus sentidos. Talvez pela facilidade de imaginar, sensibilidade aguçada e pelo fascínio de ter alguém relatando os fatos, já que Camila é portadora de deficiência visual desde os três meses de vida.
O fato de não enxergar não impede Camila de levar uma vida tumultuada. Ao contrário do que se pode imaginar ela acredita que a aproximação e o contato com as pessoas precisa também partir do deficiente visual. “É importante estar ativo e se mostrar” – diz ela. Camila contou que andar de bicicleta pelas ruas do bairro Menino Deus em Porto Alegre nunca foi problema e as brincadeiras com os amigos, vizinhos nunca foram impedidos pela mãe. Pretende começar a praticar capoeira, pois se acha um pouco sedentária na prática de exercícios, mas gosta de sair para baladas e gostaria de ter mais convites e companhias para essa prática.
Camila foi alfabetizada em Braile antes de entrar na primeira série, em apenas 6 meses no Centro Luiz Braile. E todas as suas experiências com as questões de estudos foram positivas, desde relacionamentos com professores, colegas e agora na Universidade no quarto semestre do curso. Ela conta que alguns professores se esforçam para transmitir conteúdos das disciplinas. Há no curso disciplinas com muitos recursos visuais como, por exemplo, a disciplina de telejornalismo ou planejamento gráfico.
Aos 25 anos, filha de pais separados e com quatro irmãos, Camila vê sua mãe, Suely, como uma amiga mais que presente. É a mãe que a ajuda na compra das roupas e a organização do seu roupeiro. Como Camila nasceu prematura, permaneceu por alguns dias na encubadora, sua mãe acredita que o problema visual está ligado as luzes fortes deste equipamento, já que não há na família outros casos de deficientes visuais.
Camila fez algumas cirurgias na tentativa de reverter o quadro, e até os 14 anos ainda havia chance, pois ela tinha sensibilidade de luz, ela explica que houve erro na primeira cirurgia feita ainda quando era bebê, e este erro afetou o nervo óptico. A representatividade de cores é descrita por ela com certa precisão. Camila define conceitos de cores embora não consiga saber exatamente que tonalidade tem o preto, mas sabe dizer que é uma cor escura e consegue perceber vultos.
A falta da visão traz a percepção aguçada de outros sentidos. Camila tem ótima memória, gosta de perfumes, e sua audição é espetacular. A compensação pela falta da visão está nesses pequenos detalhes que passam um pouco mais despercebidos por quem possui este sentido. Há sem dúvidas compensação de sentidos.